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Metrópole Perdida

Janeiro de 2014, nós estamos em uma cidade onde os turistas ricos não vêem os nativos pobres. Os meios de transporte separam as duas classes sociais e a natureza reforça a divisão. O trem bala por dar mais conforto custa mais caro que o trem comum, a fim de economizar as passagens paga pelos donos do poder, os pobres optam pelo uso do bilhete único nos ônibus caindo aos pedaços.

Nos dias de chuva, os turistas transitam pelos teleféricos enquanto a população carente circula pela cidade tentando atravessar as ruas completamente alagadas. Semanalmente morrem pessoas contaminadas pela amebíase, cólera, febre amarela, hepatite A, malária, poliomielite, salmonelose, teníase, leptospirose, entre outras doenças. O governo exige que a população também usufrua dos transportes “aéreos”, mas os teleféricos não são uma boa alternativa para a população porque não transporta o trabalhador da casa para o trabalho, apenas move turistas de um morro a outro.

O metrô cada vez mais acessível a habitantes de pontos mais distantes da cidade, deixou de ser uma vantagem pelo aumento absurdo das passagens. Os pobres que antes pegavam trem, metrô e ônibus da integração do metro, agora pegam o trem, o ônibus e mais outro ônibus. A anemia tomou conta da cidade e a fadiga virou uma epidemia difícil de ser combatida. O governo prometeu cuidar da saúde pública fazendo uma parceria com a secretária estadual de transporte comprometendo-se a padronizar as frotas afirmando que assim o povo não vai reclamar da falta de iniciativa do governo e aceitará a ideologia dominante.
                                                 
Os médicos da rede pública se especializaram em “doenças do trânsito”, pois a procura por remédios que façam o organismo suportar o tráfego tem crescido muito nos últimos quatro anos. Tradicionalmente é contada uma lenda de um morro, cujo nome tem alguma coisa a ver com batuque, que se afundou igual à Torre de Babel da bíblia. As crianças tentam imaginar como foi isso. Pandora vai completar quatro anos e não faz idéia do sofrimento que seus pais passaram. Ela diz todos os dias que vai morar na Lua, ouviu dizer que um homem esteve lá há 45 anos atrás:

- A passagem deve estar mais barata agora, não é, mamãe? Já faz tanto tempo...

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