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Comunicação & Religião

Fiquei surpresa quando vi os evangélicos da Assembleia de Deus dos Últimos Dias (ADUD) dançando o passinho com o Tonzão, ex-dançarino dos Havaianos. Eu os vi pela primeira vez na Rua Uruguaiana, no centro do Rio, duas semanas atrás e hoje (05/08), pela segunda vez, no programa da Eliana, no SBT. Os caras do "Passinho do Abençoado" são ex-traficantes “transformados”. É aquilo, né? Os caras poderiam estar matando, estar roubando, mas estão ali dançando! E muito bem por sinal. É visível a estratégia de marketing do pastor Marcos por trás de tudo isso. Ele busca atrair novos fiéis fazendo um discurso bastante persuasivo.

Quase todas as religiões querem obter o maior número de adeptos. Romper com as fronteiras territoriais foi uma das principais ações. Não só através da conquista de novos territórios sob o discurso da missão religiosa catequizante, mas também pela formação de diásporas, como as africanas e as judaicas.

Lembrando que  o turismo foi impulsionado pela religião. Começando na idade antiga com as caminhadas gregas ao oráculo de Delfos, sendo retomado na idade média, com as grandes peregrinações muçulmanas em direção a Meca e as expedições católicas. Com isso, configurou-se o intercâmbio cultural e a propagação da fé. Não há dúvidas de que comunicação interpessoal foi o principal meio de difusão.

Nas últimas décadas, a religião adotou outras formas de evangelização: igreja católica romana criou o movimento carismático e algumas igrejas protestantes o gospel que parodia as práticas “mundanas”. É interessante ver o quanto da teoria da comunicação está presente nesses discursos. Partindo do princípio que evangelizar significa “anunciar a boa nova” fica mais fácil entender o crescente uso dos meios de comunicação para a propagação da religião cristã.

Essa “anunciação” se dá de duas formas: usando os meios de comunicação de massa ou adaptando conceitos da comunicação para o discurso religioso. É no mínimo indagador, por exemplo, um curso superior da Faculdade Gospel ter um módulo inteiro sobre marketing cristão. Talvez isso explique todo o talento persuasivo do pastor Marcos.

Imagem de uma página da Biblia Pauperum
Em outros tempos, a igreja católica beneficiou a comunicação de massa com a invenção da Biblia Pauperum, de Johannes Gutenberg. Esta coletânea de textos religiosos ilustrados foi a precursora dos quadrinhos. E os famosos gibis, por sua vez, tomaram conta do jornalismo impresso durante o século XIX, além de emprestarem sua linguagem para o cinema. Agora, a religião usa os veículos de comunicação para lançar artistas na mídia quando não produz seu próprio material midiático para evangelização.

Tenho certeza que Lutero quando realizou a reforma protestante não podia prever que as coisas tomariam este rumo. Acho que nem Jesus! Lembrei agora de uma frase de Karl Marx: “a religião é ópio do povo”. E das ideias do meu querido Max Weber... A religião de certa maneira nos traz uma postura ética e disciplinante. Se isso é bom ou ruim, não posso dizer... Mas, se isso faz bem para algumas pessoas, faz!

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