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Carnaval aqui, Halloween acolá

Halloween está para o Dia de Todos os Santos, assim como Carnaval está para a Quaresma. É, vivemos em um mundo pautado em tradições religiosas. A diferença do cristianismo para outras religiões do ocidente está no grau de enraizamento cultural de elementos religiosos. No caso do Brasil, o país é laico, mas os preceitos da religião dominante estão no cerne do nosso pensar e agir. Podemos dizer o mesmo de países como os EUA, apesar de o Halloween não ser uma festividade estadunidense. Reza a lenda, que ela resulta de uma comemoração pela abundância de comida no fim da colheita na Grã Bretanha em que a população acendia fogueiras, as crianças passavam de porta em porta dizendo orações aos mortos e recebendo bolos em troca, havia rituais de adivinhação de futuros maridos ou esposas e também previsão de data de morte. Com o tempo, a festa pagã que celebrava os mortos, a época de colheita ou fim do verão e o início do outono no hemisfério norte, ficou conhecida como dia das bruxas. A chegada as terras norte-americanas ocorreu em 1845, com a imigração de irlandeses durante o período conhecido como a “Grande Fome”.
       Etimologicamente, "halloween" vem de "All Hallows Eve", sendo “hallow” é um antigo termo para "santo" e “eve” o mesmo que "véspera". Por séculos, o terminologia significava a véspera do Dia de Todos os Santos. Sendo o Halloween celebrado em 31 de outubro e o Dia de Todos os Santos, em 01 de novembro. Já o Carnaval termina com a quarta-feira de cinzas e logo em seguida começa a Quaresma, quarenta dias de jejum em celebração a morte e ressureição de Jesus Cristo. 
       Anteriormente, o Dia de Todos os Santos era comemorado em 13 de maio, mas, vejam só: novamente nossos gregórios fizeram alterações de datas significativas e criaram hábitos culturais seculares! (Leia o texto sobre o “ano novo” para entender isso).  Dessa vez, foi o Papa Gregório III que mudou a data de 13 de maio para 1 de novembro, no século VIII. Atualmente, só a igreja católica comemora  o Dia de Todos os Santos no primeiro dia de novembro. As outras igrejas cristãs, celebram no primeiro domingo de Pentecostes, cinquenta dias depois da Páscoa. Entretanto, nosso calendário é cristão católico, então, estamos preso a lógica do catolicismo.
Ilustração: Tatiane Lima
E o Carnaval não só tem também alguns séculos, como tem também uma etimologia relacionada a uma celebração cristã. A palavra “carnaval” é originária do latim “carnis levale” que quer dizer “retirar a carne”. O termo está relacionado ao jejum da Quaresma que proíbe o cristão de comer carne em respeito as chagas de Jesus Cristo. A maneira que a igreja cristã encontra para conter as festividades pagãs é associá-las as festividades religiosas. Como se os períodos de desprendimentos devem ser seguidos de longos períodos de arrependimentos e perdão. 
    Comumente, o carnaval é associado a suas festas: as saceias, realizadas na babilônia cujo prisioneiro era rei por um dia, desposando de riqueza, luxúria e mulheres para depois morrer enforcado ou empalado; e as festas dionisíacas (ou bacanais) em homenagem a deus grego Dionísio ou o romano Baco. A versão brasileira é inspirada na festividade portuguesa conhecida como Entrudo. Apesar de ser uma comemoração dos portugueses, aqui no Brasil foi praticada pelos africanos escravizados. O carnaval que conhecemos hoje evolui dos cordões, ranchos, festas de salão, os corsos às escolas de samba.
       Podemos dizer que, no ocidente, a América do Norte importou da Europa o Dia das Bruxas e a América do Sul, o Carnaval. E podemos dizer ainda que a cultura popular é o "calcanhar de Aquiles" da religião cristã. E, cá entre nós, nosso carnaval, repleto de elementos culturais africanos, é bem mais interessante que aquele baile de máscara que acontecia em Veneza ou outras festas europeias. Nosso carnaval é o maior do mundo, seguido das festividades dos países africanos. Então, antes de reclamar que o Halloween é importado dos "americanos", lembre-se: "nada se cria, tudo se copia", já dizia Chacrinha. Só não esqueçamos jamais das origens. 

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