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A suástica dos seguidores do Bolsonaro

Como esse blog relaciona comunicação com arte e cultura, calhou de ter um tema atual digno de uma análise "fora da caixinha". Vamos falar sobre os supostos atentados neonazistas em nome do candidato à presidência, Jair Bolsonaro. Ainda que os atentados ocorridos Brasil afora sejam feitos por neonazistas, o símbolo desenhado por eles é intencionalmente nazista, mas foram desenhados incorretamente. E qual é o problema? Vou apresentar dois:

1 - Seguir uma ideologia sem compreendê-la muito bem

Pasmem: muitos neonazistas brasileiros são negros, miscigenados, bissexuais e/ou deficientes. Eu conheci alguns e tentei provar que Hitler jamais os manteria sob solo alemão. Eles seriam os primeiros a serem extirpados da terra. Infelizmente, o desejo de ser puramente branco não era exclusivo dos alemães. Em diversos países, o movimento eugenista foi institucionalizado e o Brasil não ficou de fora dessa. Dá um "google" em "Movimento Eugenista Brasileiro". Já adianto que dois de seus maiores expoentes foram Monteiro Lobato e Edgard Roquette-Pinto. Pertencemos a um país em que cidadãos não se reconhecem como negros e não compreendem a formação história do país, nem mesmo a trajetória das migrações e as "evoluções" genéticas. E mesmo na Alemanha, Hitler queria manter a raça ariana, mas o que ele não sabia era que a nossa Eva Mitocondrial é negra. O DNA de TODOS os seres humanos tem um gene africano.
Para completar, os médicos nazistas fizeram experimentos humanos baseados em respostas imediatas a situações extremas de sobrevivência. Ou seja, apresentava muitas controvérsias em relação aos métodos, a eficácia e a ética profissional. Eles não conseguiram comprovar teses racistas acerca da supremacia branca. Se você quiser entender a superficialidade das pesquisas e a brutalidade dos experimentos, sugiro que leia The Nazi Doctors, do psiquiatra Robert Jay Lifton. É um livro chocante!
Enquanto a Alemanha propunha um poder branco através do aniquilamento dos não-brancos, visto que alemãs achavam que a raça ariana havia sido enfraquecida com ao se misturar com raças inferiores. No Brasil, os eugenistas propunham uma mistura de raças para clarear a pela e extinguir os negros do Brasil a médio prazo através da política de embranquecimento. Ou seja, "enfraquecendo" a pele negra. Cá entre nós, se eles optassem pelo aniquilamento a curto prazo, como fizeram os alemães, não sobrava um vivo. Para mim, foi uma questão de sobrevivência dos próprios eugenistas brasileiros. O conceito de supremacia racial se quer poderia ser cogitado em solo brasileiro. Em lugar nenhum do mundo, na verdade, mas aqui é mais que evidente a sua inexistência.

2 - Incompreensão quanto os diferentes significados do símbolo

Há duas razões para a suástica ter sido usada pelos nazistas: primeiro, a sua relação com o ocultismo. Embora Hitler não fosse ligado diretamente ao ocultismo, muitos de seus aliados eram. A própria sociedade ocultista Thule apoiou o partido até a ascensão de Hitler. Os ocultistas viam Hitler como um escolhido no âmbito transcendental e a suástica seria a representação simbólica do seu poder. O segundo motivo é a suposta invasão da Índia pelos arianos. O partido acreditava que os arianos haviam invadido o país e instaurado o sistema de castas. Com isso, a suástica teria sido usada na Índia como símbolo da supremacia racial ariana. 
Apesar da suástica, símbolo religioso e cultural usado por dezenas de civilizações, ter sua versão nazista mais difundida que suas representações milenares, ela não foi criada pelos alemães e nem mesmo pelos "lendários" arianos. Eles a copiaram. Os alemães queriam ser puros, mas nada originais! E novamente pasmem: os povos que usavam a suástica eram considerados seres inferiores pelos nazistas! Deu nó na sua mente? Na minha também dá. Então, a raça deveria ser superior geneticamente, mas politicamente poderia fazer apropriação cultural? Hmmm... vou deixar essa provocativa solta no ciberespaço. Voltemos aos seguidores do Jair Bolsonaro...
Há especificações em cada uma das dezenas de representações da suástica. Obrigatoriamente, a suástica nazista é inclinada para a esquerda, com as pontas indicando giro para a direita e com medidas simétricas. Os alemães nazistas buscavam perfeição, logo o símbolo deveria ter uma simetria. Veja o traçado vermelho que coloquei na figura à direita para mostrar o quanto ela foi trabalhada geometricamente. 

Tanto a pichação encontrada na UERJ (feita em 2010, associada recentemente aos eleitores de Bolsonar, logo se trata de uma fake news) quanto a marca gravada supostamente também por eleitores na barriga de uma mulher por ela vestir uma camisa com a hashtag #EleNão podem ser intencionalmente nazista, mas na prática é outra coisa. Se aproximam mais dos símbolos que carregam mensagens positivas. 
Pichação nos muros do Teatro Odylo Costa Filho
Marcas gravadas com canivete por eleitores

Ambas estão no sentido oposto da suástica nazista que gira para a direita (e isso tem a sua conotação simbólica). E na pichação da UERJ  falta a inclinação do símbolo nazista. O que mostra que eles sabem a mensagem que querem passar, mas não compreendem o seu verdadeiro significado, para o bem e para o mal. Ah, só para lembrar: o uso da suástica é considerado crime no Brasil e na Alemanha. Talvez, o erro tenha sido proposital para que os criminosos não sejam presos. Vai saber?! Não duvido muito disso.

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