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Prazer em rever-me!

Estava com saudades de mim!
Deixei de ser eu por um longo tempo.
Voltei a mim.
Feliz da vida!
Agora posso caminhar.
Durante três anos me abandonei,
mas reencontrei-me em minhas memórias,
nos meus amigos...
Quanto de mim se perdeu:
meus valores,
meus príncipios,
minhas ideologias,
tudo para tentar caber na forma.
Eu não nasci para caber na forma!
Saber disso me deixa muito feliz.
Vejo que sou um ser complexo.
Como posso comportar tantos elementos?
O mundo aponta para a convergência,
para cultura híbrida,
para o transdisciplinar...
E todo o meu ser está conectado,
mas de outra forma.
Eu dialogo com meus passados,
que podem ser separados.
Levo uma vida épica,
que pode ser montada e desmontada,
como um quebra-cabeça.
A ligação entre uma história e outra,
entre um caminho e outro,
só eu posso fazer.
Eu sou a relação entre as coisas.

Se os outros não entendem,
é porque eles não são eu.
Só eu me compreendo infinitamente.
Os outros entendem as partes, e só.
Pela forma, este texto não é uma poesia.
Quem liga para a forma?
Ou para fôrma, de acento facultativo?
Este é um texto disforme,
pois toda poesia é livre.


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Este poema é totalmente autobiográfico. Aqui eu relato minhas experiências. O mais curioso é ver o quanto que a vida nos leva para caminhos estranhos e depois nos faz retornar ao nosso verdadeiro lugar. Ao retornarmos para algo que pareça fazer sentido para nós, percebemos que de todas as experiências vividas estão correlacionadas. Nada que façamos na vida é em vão, desde um curso, um trabalho... Nada! Não falo aqui em destino. Refiro-me a afinidades. Mesmo que faça sentido só para si próprio. Não importa. Experiência é algo “pessoal e intransferível”. Estranho é ver os pais tentando padronizar: “Eu tenho mais experiência que você”. Eles nos dizem isso como se desse para somar. “Você vai passar por maus bocados ainda, vai apanhar muito da vida”, afirmam categoricamente, como se todos reagissem da mesma maneira a tudo que a vida traz.

Quando escrevi sobre “ligação de uma história e outra”, eu pensei no filme “Cidadão Kane” em que o personagem cujo passado está sendo investigado tem várias faces. Cada um que conviveu com ele experimentou uma de suas facetas. Como saber quem realmente foi Charles Foster Kane? É quase impossível, pois cada um absorve uma parte de nós. Somente nós mesmos somos capazes de lidar com nossa integridade, somente nós mesmos sabemos nossos limites e conhecemos nossa verdadeira história, nossa biografia. Uma pessoa pode dizer que sou totalmente tímida e outra poderá dizer que sou muito espontânea, e nenhuma delas estará errada. Em cada momento da minha vida, experimentei uma sensação, tive um dado comportamento que envolvia uma série de fatos externos que compunham a minha personalidade.

Esse texto pode ser interpretado de diversas formas. Eu quero é mais que seja assim mesmo. Eu mesmo, faço várias leituras deste texto. Voltando ao meu relato pessoal... A gente se reinventa inúmeras vezes ao longo da vida. Há uma essência que nos identifica, mas há todo um restante que se modifica a cada instante. Sonhos mudam. Novos desejos surgem. Assim a gente vai vivendo. Se não fossem os sonhos e a paixão pela vida, não estaríamos todos aqui. Vivos!

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